sábado, 22 de maio de 2010

Cubismo...




A ausência de foco e o desmoronamento da narrativa na música de Stravinsky, tal como praticada por artistas como James Joyce e Pablo Picasso conduz ao universo mental, não lógico, não objetivo e essencialmente sem causa.

A Literatura Cubista


A literatura cubista valoriza a proposta da Vanguarda Européia de se aproximar ao máximo das várias manifestações artísticas.Entende o poema como um objeto artisticamente autônomo. Graficamente desafiam as convenções da escrita, não respeitam a gramática nem a prosódia, preferem a paródia da representação tradicional dos objetos. Mário de Sá Carneiro e Guillaume Apollinaire são representantes da literatura cubista.

Parte da correspondência de Mário de Sá Carneiro em 10 de março de 1913 relatando ao seu grande amigo Fernando Pessoa que acreditava no cubismo:

[...] No entanto, confesso-lhe, meu caro Pessoa, sem estar doido, eu acredito no cubismo. Quer dizer: acredito no cubismo, mas não nos quadros cubistas até hoje executados. Mas não me podem deixar de ser simpáticos aqueles que, num esforço, tentam em vez de reproduzir vaquinhas a pastar e caras de madamas mais ou menos nuas – antes, interpretar um sonho, um som, um estado de alma, uma deslocação do ar, etc. Simplesmente levados a exageros de escola, lutam com dificuldades duma ânsia que, se fosse satisfeita, seria genial, as suas obras derrotam, espantam, fazem rir os levianos. Entretanto, meu caro, tão estranhos e incompreensíveis são muitos dos sonetos de Mallarmé. E nós compreendemo-los. Por quê? Porque o artista foi genial e realizou sua intenção. Os cubistas talvez ainda não a realizassem. Eis tudo. [...] Resumindo: eu creio nas intenções dos cubistas; simplesmente considero artistas que não realizaram aquilo que pretendem.

Poema cubista de Mário de Sá Carneiro

Cinco Horas


Minha mesa no Café,
Quero-lhe tanto... A garrida
Toda de pedra brunida
Que linda e fresca é!

Um sifão verde no meio
E, ao seu lado, a fosforeira
Diante ao meu copo cheio
Duma bebida ligeira.


(Eu bani sempre os licores
Que acho pouco ornamentais:
Os xaropes têm cores
Mais vivas e mais brutais.)


Sobre ela posso escrever
Os meu versos prateados,
Com estranheza dos criados
Que me olham sem perceber...


Sobre ela descanso os braços
Numa atitude alheada,
Buscando pelo ar os traços
Da minha vida passada.


Ou acendendo cigarros,
— Pois há um ano que fumo —
Imaginário presumo
Os meus enredos bizarros.


(E se acaso em minha frente
Uma linda mulher brilha,
O fumo da cigarrilha
Vai beijá-la, claramente)


Um novo freguês que entra
É novo actor no tablado,
Que o meu olhar fatigado
Nele outro enredo concentra.


É o carmim daquela boca
Que ao fundo descubro, triste,
Na minha idéia persiste
E nunca mais se desloca.


Cinge tais futilidades
A minha recordação,
E destes vislumbres são
As minhas maiores saudades...


(Que história de Oiro tão bela
Na minha vida abortou:
Eu fui herói de novela
Que autor nenhum empregou...)


Nos cafés espero a vida
Que nunca vem ter comigo:
— Não me faz nenhum castigo,
Que o tempo passa em corrida.


Passar tempo é o meu fito,
Ideal que só me resta:
Pra mim não há melhor festa,
Nem mais nada acho bonito.


— Cafés da minha preguiça,
Sois hoje — que galardão! —
Todo o meu campo de acção
E toda minha cobiça.






Guillaume Apollinaire (1880 - 1918) nasceu em Roma, Itália. Mas seria em Paris, França, que faria carreira como grande poeta e agitador cultural. Escreveu artigos, poemas, contos, romances eróticos e interessava-se bastante por pintura moderna. Em 1905 escreveu o artigo Picasso, Pintor. Em 1912 escreveu o catálago para a mostra de Delauney e em 1918 faria o mesmo para a mosta Picasso-Matisse. Engajou-se no Exército francês durante a 1ª Guerra mundial, sairia com um ferimento na têmpora direita, recuperando-se após duas cirurgias. Tornou-se um dos expoentes da vanguarda artística do início do século XX, defendeu e empresariou os pintores cubistas.
Apollinaire defendia as palavras em liberdade e a invenção de palavras e propunha também a destruição das sintaxes já condenadas pelo uso. Pregava a utilização do verso livre e a consequente negação da estrofe, da rima e da harmonia.



Poema de cunho cubista de Carlos Drummond de Andrade.

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